Como
prometido, nos próximos post´s comentarei a resolução das primeiras onze questões sobre Língua Portuguesa da Prova de Escrevente aplicada no concurso de 2013.
Vocês
já devem ter baixado a prova, no link que disponibilizamos aqui Prova para download
Sem
mais delongas, vamos aos comentários (sugiro que ao resolver a prova, tentem
justificar porque cada alternativa está CERTA ou ERRADA, não se limitando
apenas a marcar o XIS e pular para a próxima).
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ESCREVENTE
TÉCNICO JUDICIÁRIO - TJ/SP 2013
VUNESP
LÍNGUA
PORTUGUESA
Leia
o texto, para responder às questões de números 01 a 11.
Veja, aí estão eles, a bailar seu diabólico “pas de deux” (*):
sentado, ao fundo do restaurante, o cliente paulista acena, assovia,
agita os braços num agônico polichinelo; encostado à parede,
marmóreo e impassível, o garçom carioca o ignora com redobrada
atenção. O paulista estrebucha: “Amigô?!”, “Chefê?!”,
“Parceirô?!”; o garçom boceja, tira um fiapo do ombro, olha pro
lustre.
Eu disse “cliente paulista”, percebo a redundância: o paulista
é sempre cliente. Sem querer estereotipar, mas já estereotipando:
trata-se de um ser cujas interações sociais terminam, 99% das
vezes, diante da pergunta “débito ou crédito?”.[...] Como pode
ele entender que o fato de estar pagando não garantirá a atenção
do garçom carioca? Como pode o ignóbil paulista, nascido e
criado na crua batalha entre burgueses e proletários, compreender
o discreto charme da aristocracia?
Sim, meu caro paulista: o garçom carioca é antes de tudo
um nobre. Um antigo membro da corte que esconde, por trás da
carapinha entediada, do descaso e da gravata borboleta, saudades
do imperador. [...] Se deixou de bajular os príncipes e princesas
do século 19, passou a servir reis e rainhas do 20: levou gim tônicas
para Vinicius e caipirinhas para Sinatra, uísques para Tom
e leites para Nelson, recebeu gordas gorjetas de Orson Welles e
autógrafos de Rockfeller; ainda hoje fala de futebol com Roberto
Carlos e ouve conselhos de João Gilberto. Continua tão nobre
quanto sempre foi, seu orgulho permanece intacto.
Até que chega esse paulista, esse homem bidimensional e
sem poesia, de camisa polo, meia soquete e sapatênis, achando
que o jacarezinho de sua Lacoste é um crachá universal, capaz de
abrir todas as portas. Ah, paulishhhhta otááário, nenhum emblema
preencherá o vazio que carregas no peito - pensa o garçom,
antes de conduzi-lo à última mesa do restaurante, a caminho do
banheiro, e ali esquecê-lo para todo o sempre.
Veja, veja como ele se debate, como se debaterá amanhã,
depois de amanhã e até a Quarta-Feira de Cinzas, maldizendo a
Guanabara, saudoso das várzeas do Tietê, onde a desigualdade
é tão mais organizada: “Ô, companheirô, faz meia hora que eu
cheguei, dava pra ver um cardápio?!”. Acalme-se, conterrâneo.
Acostume-se com sua existência plebeia. O garçom carioca não
está aí para servi-lo, você é que foi ao restaurante para homenageá-
lo.
(Antonio Prata, Cliente paulista, garçom carioca. Folha de S.Paulo,
06.02.2013)
(*) Um tipo de coreografia, de dança.
QUESTÕES
01. É correto dizer que a acentuação gráfica que o autor
emprega tanto segue a norma-padrão quanto desobedece a ela, neste
caso, numa tentativa de imitar a entonação oral do chamamento.
Essa afirmação é baseada na acentuação, respectivamente, de
(A) sapatênis e Tietê.
(B) diabólico e marmóreo.
(C) esquecê-lo e amigô.
(D) companheirô e débito.
(E) chefê e parceirô.
Solução: A questão traz cinco alternativas, cada uma com duas palavras. A chave
para não errar esta é se atentar ao que é preciso: Encontrar nas alternativas,
uma que tenha a primeira palavra acentuada corretamente e a segunda de forma
incorreta (destaque para o RESPECTIVAMENTE no comando da
questão), sendo que esta segunda acentuada errada é com o fim de imitar a entonação oral de um chamamento.
Só pensando na questão do chamamento, apenas três alternativas atendem a este requisito: letra C (amigô), letra D (companheirô) e letra E (chefê e parceirô).
Logo, as alternativas A e B já estão sumariamente descartadas.
Restam as três últimas alternativas...
Na letra D, COMPANHEIRÔ está acentuada de forma incorreta, enquanto DÉBITO está correto. No entanto, a questão espera que encontremos primeiro uma palavra com acento de acordo com a norma e depois a acentuada de forma errada (o respectivamente do comando). Logo, a letra D também não é a nossa resposta.
Na letra E, CHEFÊ e PARCEIRÔ estão acentuadas de forma incorreta. Logo, também a alternativa E não pode ser a resposta que buscamos.
Assim, a solução só pode ser a LETRA C, concordam?
Vamos verificar... ESQUECÊ-LO, acentuada corretamente e AMIGÔ de forma incorreta, para imitar a forma oral do chamamento (pensem em vocês sentados na mesa do bar, agoniados querendo ser atendidos.... diriam um sonoro AMIGÔÔÔÔÔ)
GABARITO - LETRA C
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