“Mauá
– O Imperador e o Rei”, do cineasta Sérgio Rezende, inspirou-se
na vida de Irineu Evangelista dos Santos para retratar aspectos
importantes de como se davam as relações de poder na sociedade
brasileira do Império.
Ao
contar a saga empreendedora daquele que viria a ser o 'O Barão de
Mauá', o diretor imerge o espectador num universo político de
conchavos, protecionismo e barreiras impostas que resultavam numa
resistência às mudanças. Assim, de uma lado tínhamos um jovem
desenvolvimentista, cuja carreira começara tão logo este percebeu
seu grande tino comercial, que acabou por levá-lo a alçar voos
maiores, incluindo a implantação da indústria no país, a criação
de estradas de ferro, de bancos comerciais etc; e do outro, uma velha
elite de pensamento retrógrado que enxergava o Brasil como um país
de vocação exclusivamente agrícola. Esta seria a tônica de todo o
enredo.
É
bastante cedo na trama, por exemplo, que Mauá confidencia ao Sr.
Carruthers – uma espécie de mentor em seus negócios – não ter
mais meios de vencer entraves burocráticos que obstaculizavam um de
seus empreendimentos, ao que este lhe responde que 'quando as portas
se fecham é preciso ter as chaves certas para abri-las'. Na
sequência a cena é cortada e na tomada seguinte vemos a iniciação
do Barão em uma Loja Maçônica – fato este que marcaria toda sua
trajetória, já que encontraria na Maçonaria o apoio que não
obteve do Império e que lhe serviria para fazer frente as
“...práticas clientelares e as redes que estas alimentaram´, onde
´os principais grupos econômicos do país – os grandes
negociantes e proprietários de terras e escravos – e as grandes
oligarquias regionais... controlavam os poderes locais e estendiam
sua esfera de influência não só para além dos próprios limites
provinciais, como em direção ao poder central (Maria Fernandes
Martins – A velha arte de governar, p. 181)”.
Curioso é que mesmo com o apoio desta forte e influente aliada,
Mauá continuaria em oposição aos poderes instalados, já que a
voracidade com que conduzia seus negócios era ameaça as elites e a
situação existente.
Exemplo disso se vê quando da fundação de seu banco comercial,
onde em pouco tempo assumiu papel de destaque na cena econômica,
chegando a exercer, as vezes, um papel que caberia a um Banco Central
(ocasião em que vendeu suas reservas de libra, forçando a
desvalorização da moeda estrangeira para posteriormente recomprá-la
pelo que chamou de 'preço justo').
Em
retaliação a esta atitude, ouviu seu principal opositor, o Visconde
Feitoza, atacar a credibilidade de seu banco, levando os correntistas
a uma verdadeira corrida para resgate de seus depósitos, que quase o
levou à falência.
É em
meio a este ambiente hostil que Mauá se levanta qual 'Rei',
desafiando com sua audácia e bravura os poderes e as elites da época
e deixando uma marca indelével em nossa história, ao prenunciar os
avanços políticos e econômicos que o futuro nos reservaria.
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